Portugal e Brasil congregam esforços para apoiar a produção sustentável de café em Moçambique
Um projeto triangular que é implementado no Parque Nacional da Gorongosa de Moçambique, com três componentes indissociáveis: econômico, ambiental e social.
O projeto de Cooperação Triangular “Desenvolvimento sustentável de café no Parque Nacional da Gorongosa” entre o Brasil-Portugal e Moçambique, teve início em 2017 com o objetivo de caracterizar e implementar um sistema de produção sustentável de café no mencionado Parque Nacional. Os objetivos últimos são atenuar os efeitos da desflorestação e da pressão das alterações climáticas, promover o agronegócio e aumentar o rendimento e a segurança alimentar das famílias rurais da região.
Anteriormente, no final de 2016, Portugal e o Brasil assinaram um memorando de entendimento sobre cooperação técnica para o desenvolvimento em benefício de países terceiros, no qual se enquadra esta atividade. Na verdade, a assinatura deste MEMO facilitou que a iniciativa fosse coordenada e financiada pela Agência Brasileira de Cooperação (ABC) e pelo Camões – Instituto da Cooperação e da Língua.
Por sua vez, o projeto é executado com o apoio técnico do Centro de Ciências Agrárias e Biológicas da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) do Brasil, do Instituto Superior de Agronomia da Universidade de Lisboa (ISA/ULisboa) de Portugal e do Parque Nacional da Gorongosa. Estas universidades do Brasil e Portugal têm uma grande tradição de colaboração em investigações de café, tanto no que respeita a sistemas de produção quanto ao comportamento da planta face às limitações climáticas e ao seu melhoramento. Assim, nesta ocasião uniram-se para apoiar com toda a sua experiência o desenvolvimento de recursos humanos e de tecnologia agrícola em Moçambique.
O Parque Nacional da Gorongosa é uma das áreas mais emblemáticas de África onde foi possível restaurar a vida selvagem. A partir de 2008, tem vindo a ser gerido de forma público-privada entre o Governo de Moçambique e a Fundação Carr, uma organização norte-americana sem fins lucrativos. O Parque dedica-se a quatro áreas principais: conservação da biodiversidade, apoio às comunidades locais, ciência e turismo ecológico.
Por sua vez, o projeto de produção sustentável de café do Parque tem três grandes componentes indissociáveis: económica, ambiental e social. A primeira, relaciona-se com a melhoria da qualidade ao longo de todo o ciclo de produção. A componente ambiental procura recuperar as árvores que existiam na montanha, fundamentais, entre outras coisas, para a retenção da água das chuvas —evitando deslizamentos de terras— e para a recuperação da fauna do Parque. Esta componente pretende ainda garantir que o café se produz de forma sustentável e que todas as práticas utilizadas são amigas do ambiente —sem compostos que podem ser prejudiciais para a fauna e flora do Parque—.
Entretanto, a social tem por objetivo melhorar a qualidade de vida das populações locais. Desta forma, os recursos produzidos pela venda de café serão canalizados para o desenvolvimento local, por exemplo, através da construção de escolas e clínicas, para além da criação de emprego. A par do exposto, é de acrescentar que o projeto também contribui para o desenvolvimento científico, já que realiza ações de investigação e melhoria genética, bem como formação superior a nível de mestrado e doutoramento de estudantes moçambicanos na área do café.
Prevê-se que a iniciativa continue em execução até 2022 e espera-se que, ao terminar, os agricultores, extensionistas, técnicos, estudantes e investigadores que nela participaram, tenham sido capacitados para melhorar os atuais sistemas de produção. Está também prevista a elaboração de um manual de boas práticas de gestão da cultura do café, que será distribuído gratuitamente aos produtores rurais de Moçambique.
Maio de 2021
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Fonte: SEGIB a partir das Agências e Direções Gerais de Cooperação; Camões, I.P, Mendes Vidal (2018) e páginas digitais da Universidade Federal do Espírito Santo, Agência Brasileira de Cooperação e Parque Nacional de Gorongosa.
Fotografias: Camões, I.P